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DESIGN TAMBÉM É UMA FERRAMENTA PARA AS EMPRESAS

Por: Ivens Fontoura

 

Design é responsável pela transformação do entorno.
A sociedade é quem determina qual o tipo de ambiente em que as pessoas podem viver.

Ao contrário do que se imagina, design não é um conceito contemporâneo. Está ao nosso redor desde a pré-história e acompanha a civilização em cada nova conquista.

Ao longo do seu processo cultural, o homem vem construindo objetos que facilitam seu dia-a-dia e nesta atitude emprega seus fundamentos. Em tempos de concorrência acirrada, investir nesta ferramenta pode ser uma alternativa para melhorar a performance de uma empresa.
Ivens Fontoura acredita que o “Bom Design” pode dar uma grande contribuição para a indústria de ferramentais, melhorando a qualidade dos produtos e o lucro das empresas.

Na opinião de Ivens Fontoura, a concepção de um bom modelo é um importante agregador de valor ao produto. Segundo ele, ao propor a forma de um produto, o designer busca soluções técnicas para melhorar a sua qualidade formal e funcional. “Lamentavelmente surgiu na sociedade uma idéia de que isto custa caro. Mas, se o designer busca racionalidade, usando menos matéria-prima, consumindo menos energia e produzindo com menos desperdício, indiretamente está trazendo lucro para a empresa”, ensina o mestre. Para ele, se o empresário tem um produto que atenda ao desejo de um público alvo, ele vende mais e, se vende mais, tem mais lucro.

Mas Ivens não poupa críticas a seus colegas, afirmando que há um pouco de estrelismo em relação à profissão. “Muitas vezes, as pessoas são convencidas a pagar muito por um projeto, mas será que ele vale? O bom projeto é aquele que proporciona bem-estar e emoção ao usuário, agrega valor, exige menos consumo financeiro e proporciona maior lucro”. Para os casos mal sucedidos de investimento em design, Ivens acredita que o empresário pode ter atribuído ao trabalho um custo sem relacioná-lo com o benefício, ou o projeto é ruim mesmo e não proporcionou o benefício esperado. Porém, destaca, que na maioria das vezes, o empresário brasileiro quer recuperar seu investimento e nem sempre isso é possível.

Salvador da pátria?

Com a experiência de anos trabalhando na área, Ivens afirma que o empresário não deve buscar um “salvador da pátria”, o qual resolverá todos os problemas da empresa apenas com design. Ele ensina que é preciso olhar para o mercado e descobrir se o produto concorrente não tem mais qualidade, como por exemplo uma peça de plástico sem rebarba e que este simples detalhe ajuda a vencer mais.
“O designer deve olhar para o concorrente, para saber o que ele faz melhor. Por que consegue mais qualidade? Com certeza, ele foi mais competente na gestão”, conclui.

 

O professor ensina que desenvolver um projeto nesta área depende do trabalho de uma equipe afinada, como uma orquestra. “Você pode reunir bons músicos, mas se não tiver um bom maestro você não faz uma boa orquestra. Não vou afirmar que seja o designer maestro: pode ser um engenheiro, o proprietário da empresa ou uma equipe de pessoas, desde que sincronizadas na tarefa”, observa.

Por isso, ratifica que o designer é um profissional que precisa saber executar diferentes setores e estabelecer harmonia entre a equipe.
Acredita que a experiência é a melhor credencial para selecionar um profissional da área. “Não se admite um consultor que está começando na profissão. É preciso um profissional experiente que, talvez, não faça o projeto, mas saiba analisar o produto, apontar defeitos e sugerir melhorias”. Afinal, não se faz um consultor em poucos anos.

 

Lucro

Segundo o especialista, não são poucos os ganhos que o designer pode conferir a um produto, pois o trabalho de um bom profissional pode significar desde economia de materiais até condutas mais corretas do ponto de vista ambiental. Ivens exemplifica com o projeto de uma cadeira vencedora do recente SalãoDesign Movelsul 2006 a Cadeira Cruz Latina, dos argentinos Martin Javier Favre e Nestor Bortolotto. “Você monta a cadeira em 30 segundos com um único parafuso. Se eu tenho um produto que precisa de oito parafusos e repenso, redesenho e reduzo para cinco parafusos em cada produto, economizo três peças. Isso é fantástico, um produto com menos componentes e com a mesma qualidade”, ressalta.

Acrescenta que ao especificar materiais para um processo, o designer deve considerar o fator ambiental, sugerindo matéria-prima certificada e menos poluente e fornecedores preocupados com o meio ambiente, resultando em ganho ambiental e imagem positiva para a empresa. Esses recursos estão entre os que podem significar a diferença entre o sucesso e o fracasso de um produto e, evidentemente, de uma empresa.



A história redesenhada

Em um breve vôo sobre a história, Ivens Fontoura cita o filósofo catalão Jordi Llovet, para relembrar o real significado do design, tão ligado aos tempos modernos.

Explica que o termo vem do latim, designium (dar sentido às coisas). Redemonta à fase naturalista da civilização, na qual havia um pequeno nível de transformação da natureza e o objeto tinha apenas o valor de uso e o valor de signo (símbolo). Em seguida, veio a fase inventiva que foi a superação da natureza pelo homem. E, finalmente a fase consumista, na qual vivemos e que caracteriza o mundo Ocidental e a economia de mercado.

O termo design está no Oxford Dictionary desde 1588 onde é definido como “um plano concebido pelo homem para algo que se pretende realizar..”Em outras palavras, o projeto, ou seja, faz design aquele que projeta alguma coisa para ser usada como bem de consumo ou bem de capital. “Quando o sujeito escolheu a melhor rocha (sílex) para amarrá-la em um pedaço de madeira e fazer um machado, sem saber, estava fazendo design”. Quem é que desenhou as sandálias do povo grego? Quem é que fez as armas e os escudos durante a milenar história bélica da humanidade? Isto tudo é resultado do design”, afirma.

Mas foi a partir da Revolução Industrial – séculos XVII, XVIII e XIX que o desenho do produto ganhou mais destaque. Segundo Ivens, as mudanças tecnológicas impuseram a substituição da manufatura por um conceito industrial e a revolução industrial permitiu repetir um padrão com mais facilidade e fidelidade.

O bom design é uma das ferramentas do ferramenteiro, ajuda a melhorar a qualidade do produto e o lucro da empresa”.

Muita gente acredita que o design começou com a Revolução Industrial e depois foi se arrumando com diferentes movimentos de reação e adaptação como o Arts and Crafts na Inglaterra, o Art Nouveau na França, a Sezession na Áustria e o Deutsche Werkbund, até chegar à escola de Walter Gropius, a Bauhaus (1919-1933) ou a HfG-Hoch-schule für Gestaltung Ulm (1953-1968), ambas na Alemanha. No entanto, na opinião de Ivens, esses movimentos apenas sistematizaram e atualizaram o conceito de design. “A Bauhaus, por exemplo, fazia o que se pudesse imaginar: carros, casas, cutelaria, objetos de cerâmica e vidro, luminárias, móveis e, até teatro. E felizmente divulgou esse novo conceito de uma forma muito inteligente para a sociedade mundial”.

O professor acrescenta que o designer, ao conhecer a matéria-prima, o processo de transformação, a história e as necessidades do público alvo por um novo produto, é capaz de alimentar a possibilidade de uma farta produção de bens. Porém, ele observa que é preciso o consumidor evoluir no seu conhecimento e distinguir qual é o melhor produto. “Se a favela é um lugar onde se pratica a auto-construção, onde cada morador constrói sua casa com o domínio parcial da tecnologia, também existe o auto-design, pessoas que fazem seu próprio produto, como o carpinteiro que se transformou em um pequeno ou grande fabricante de móveis ou o serralheiro que se transformou em metalúrgico. E como é que se ajusta tudo isso? Com políticas de qualidade”. Para ele, o consumidor deve ter mais informações para saber escolher entre um produto bom, regular ou ruim e para isso o design pode ser fundamental.

 

Ivens Fontoura – designer, crítico de design e professor das Universidades Católica (PUCPR), Tuiuti (UTP) e Tecnológica (UTFPR) do Paraná. Mestre em Desing Industrial/ergonomia pela Universidad Nacional Autônoma no México (UNAM) e doutorando em Universidad de Santiago de Compostela, Espanha (USC). Escreve para a página Designdesigner no jornal. “O Estado do Paraná”. Ivens.fontoura@gmail.com

Fonte:Revista Ferramental.

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