Por: Cristiane Brasil Lima Ulbrich
         Flavio Ulbrich

As ferramentarias e empresas de projeto sob encomenda têm como principal característica a gestão familiar, sendo que a forte competição internacional, a inserção de novas tecnologias e a retenção de talentos são os seus principais desafios. Este artigo tem como proposta apresentar de uma forma simples uma metodologia para analisar os aspectos organizacionais das empresas que trabalham com a fabricação sob encomenda. Dessa forma, é possível analisar novos caminhos e ferramentas para tornar a empresa mais eficiente e rentável. Aspectos como gestão de custos, liderança, sucessores, gestão de pessoas e gerenciamento de projetos são alguns dos temas
abordados.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A gestão dentro da ferramentaria é uma das tarefas mais impactantes no resultado final do projeto. Isso porque, frequentemente os gestores têm grande foco no produto e o restante do trabalho fica em segundo plano. Alguns autores definem fatores relevantes ao sucesso competitivo de uma ferramentaria:

Segundo PEREIRA [1] é possível fazer um levantamento de dados da ferramentaria para extrair indicadores (lucratividade, rentabilidade, índice de cobertura de despesa fixa, margem de lucro por centro de custos produtivo, etc) a ponto de identificar quais são as áreas que o empresário deverá ter mais atenção e quais as possíveis ações.

BARBOSA [2] descreve que o conhecimento do ambiente e dos recursos internos e externos permite identificar as fontes de vantagem competitiva de uma empresa. O autor fez uma análise abrangente e concluiu que as ferramentarias têm uma perspectiva positiva a favor da competitividade do setor nacional.

Já CALIF [3] argumenta que a gestão dos processos produtivos é, cada vez, mais,fundamental para o aumento da competitividade das erramentarias, garantindo maior qualidade e produtividade com consequente alavancagem de vendas. Este artigo descreve oito aspectos referentes à gestão de ferramentarias que devem
ser observados pelo gestor da empresa.

METODOLOGIA

Oito fatores são apresentados neste artigo de forma a serem observados na gestão de uma ferramentaria ou empresa de projeto sob encomenda (representados na figura 1). Esses fatores são: a influência do perfil do gestor no negócio, o planejamento estratégico da empresa, a viabilização constante do negócio, a influência do mercado
internacional e os quatro elementos de gestão: gerenciamento de projetos, de custos, de qualidade e de pessoas. Um detalhamento de cada fator será apresentado a seguir.

 

 

 

Figura 1. Processos que compõem a gestão de ferramentarias.

Perfil dos gestores

É muito comum o sócio fundador ser o gestor de uma ferramentaria. Por isso a forma como essa pessoa conduz o negócio é percebida por toda a empresa. Esse profissional destaca-se em pelo menos três características: é um empreendedor, um especialista e um líder.

É empreendedor porque dirige o seu próprio negócio e cria uma estratégia voltada a resultados. Tem iniciativa e senso das oportunidades percebidas no mercado para que possam ser atendidas pela sua empresa. Possuem muita determinação e persistência.
Participam pessoalmente do negócio, demonstrando independência e autonomia em suas decisões.

É um especialista em virtude da grande capacidade de aprender, movido por uma inesgotável curiosidade em aprofundar seus conhecimentos e buscar informações que ampliem sua aprendizagem. É capaz de criticar padrões e conhecimentos. Como gestor de projetos, tem a capacidade de transformar suas ideias em um conjunto de ações que as viabilizem, identificando a relação entre elas e os recursos necessários para executá-las.

Também é um líder, pois exerce autoridade e poder, sendo capaz de se relacionar, se envolver e vender suas propostas para diferentes tipos de pessoas, sendo reconhecido como um formador de opinião. Cria uma rede social que lhe permite inserir o negócio no mercado em que atua. Sabe motivar sua equipe transmitindo energia para o grupo, e é capaz de se posicionar com maturidade, equilíbrio e imparcialidade para resolver problemas e conflitos.

O planejamento estratégico da empresa

Uma das dificuldades do gestor é realizar o planejamento estratégico da empresa. Muitos alegam que o negócio depende de fatores independentes como o volume de serviço em andamento (muito trabalho e poucas pessoas para executá-los) ou da sua falta (demora para treinar um profissional e, por isso, precisa manter a equipe mesmo com pouco serviço).

Devido a estes fatores, o planejamento estratégico é algo difícil de ser aceito. Muitos acham que são reuniões sem proveito, outros ouvem, mas não se comprometem e raros são os que contratam uma consultoria para isso. A sugestão é estabelecer pontos estratégicos para os próximos cinco anos, para depois desmembrar em metas de três anos, cair para um ano e chegar ao fim do planejamento da sua rotina diária.

O gestor deve preocupar-se menos com apagar incêndios todos os dias (que o fazem perder o foco no futuro) e dar mais atenção a conceitos sobre gerenciamento estratégico, Six Sigma, gestão de projetos, gerenciamento pelas diretrizes e sistema de padronização de trabalho, além, das metodologias de análise e diagnóstico de problemas.

Viabilizar de forma lucrativa

Outro aspecto importante na gestão da ferramentaria é o foco na viabilização do negócio: para dar lucro a empresa precisa estar focada no cliente. Recomenda-se que um empreendedor não comece um negócio unicamente por saber fazer bons moldes. É preciso ter clientes, já que o objetivo da empresa é vender.

Para quem já tem uma empresa instalada, recomenda-se a constante avaliação do plano de negócios. Assim é possível pensar em um plano de expansão quando necessário ou em mudanças essenciais para a sobrevivência da empresa. Essa preparação exige uma honesta ponderação sobre o conceito do negócio, suas oportunidades, a concorrência, os pontos para o sucesso e as pessoas da equipe. A análise sempre leva a novos questionamentos e, consequentemente, a fazer uma pesquisa para encontrar as respostas.

Primeiro, deve-se fazer uma breve descrição do negócio com entusiasmo e precisão,enfatizando as habilidades da equipe. Depois, é preciso entender o nicho de mercado em que atua, idealizando assim um bom plano de marketing. O plano financeiro deve contemplar o capital necessário, assim como o planejamento do caixa da empresa (com especial atenção para não contrair dívidas excessivas). Por último é preciso documentar as ações e estabelecer um cronograma coerente.

Como lidar com o mercado internacional

A concorrência acirrada com o mercado internacional é um fator muito importante para definir os pedidos mensais das ferramentarias. Basicamente são dois fatores que predominam atualmente: o alto nível de profissionalização em países como a China e a falta de planejamento de longo prazo nas ferramentarias brasileiras.

Portanto, os fatores determinantes para o sucesso da ferramentaria nacional estão diretamente ligados ao grau de investimento tecnológico, ao interesse da empresa no planejamento de longo prazo e ao nível de profissionalização que a mesma desempenha. Em particular, no que se refere a este último, não significa fazer apenas bons moldes, mas principalmente, fazer em um alto grau de desenvolvimento a customização dos tempos de produção (como é feita na China).

Faça um bom gerenciamento de projetos

É a parte mais difícil de gerenciar nas ferramentarias, pois envolve pessoas, fornecedores, prazos e investimentos. É preciso manter na linha de base os projetos em andamento, assim como fazer a acomodação de novos projetos. Ou seja, conhecer o caminho crítico e a disponibilidade de cada recurso.

Em empresas maiores existe a figura do gestor de projetos, mas nas pequenas empresas este papel é absorvido pelo dono, que é, ao mesmo tempo, empresário e vendedor. Esses profissionais devem buscar constantemente novas ferramentas que auxiliem na gestão, ou ainda que possam manter o conhecimento dentro da empresa.

Gestão de custos

A gestão dos custos é muito importante, pois é pela sua análise que fica claro se houve lucro ou não. Os indicadores financeiros refletem o nível de gerenciamento geral da organização. Entre eles estão: EBITDA, margem de EBITDA, lucro líquido, margem líquida, valor econômico adicionado, fluxo de caixa livre, entre outros.
O mais importante é que estes fatores não sejam acompanhados apenas pelo gestor, mas que possam ser desdobrados e acompanhados pelos colaboradores da empresa.
É importante que cada um saiba como seu papel influencia na saúde financeira da ferramentaria.

Gestão da qualidade

É impossível imaginar uma empresa hoje sem relacioná-la a gestão da qualidade que auxilia com ferramentas para planejar, verificar o andamento das coisas, inserir sugestões e agir continuamente sempre que uma lacuna é identificada.

Segundo FALCONI [4] o PDCA permite a participação de todas as pessoas da empresa em seu efetivo gerenciamento, a melhoria da comunicação, o entendimento do papel de cada um no esforço empresarial, o aprendizado contínuo, o foco na obtenção de resultados e a absorção de melhores práticas empresariais. Sugere-se que as ferramentarias passem a utilizar essa ferramenta como base para o planejamento de longo prazo da empresa, identificando lacunas e determinando metas eficazes para resolver os problemas encontrados.

Gestão de pessoas

Atualmente, pode-se perceber mudanças singulares no perfil dos profissionais das ferramentarias. Os colaboradores seniores foram altamente qualificados no desempenho técnico de sua função e dominam os pormenores da ciência de se fazer moldes. Atualmente, a nova geração, também conhecida como geração “Y” tem características um pouco diferentes.

Muitos jovens têm mais empatia por tarefas mais administrativas, ou como se diz no popular “não querem mais sujar as mãos”. Por outro lado, eles trazem novos questionamentos sobre a forma de como as coisas são feitas sugerindo uma nova visão sobre o planejamento e profissionalização de atividades como um todo.

É preciso manter a equipe motivada, sendo essa tarefa de difícil execução, devido à diversidade de culturas e gerações presentes na empresa. É preciso saber lidar com seniores e jovens ao mesmo tempo. A geração “Y” traz os desafios de trabalhar com foco nas inovações, envolvendo o jovem nas tarefas da empresa e criando situações desafiadoras. São jovens com iniciativa voltados em resultados.

CONCLUSÃO

Este trabalho buscou abordar as diferentes etapas que compõem a gestão de ferramentarias e pequenas empresas de usinagem. Este processo caracteriza-se pela observação de oito fatores que afetam o planejamento da gestão destas empresas: o perfil dos gestores, a viabilidade do negócio, a influência do mercado internacional, o planejamento estratégico e as gestões de projeto, custos, qualidade e pessoas.

Dessa forma foi apresentada uma metodologia simples de observação destes fatores que possibilita a contextualização dos principais desafios encontrados por estas empresas. Diante desta abordagem, foi possível enfatizar procedimentos do processo de gestão de forma a maximizar a sua vantagem competitiva no mercado nacional.

 

Contribuição técnica ao Congresso Plastshow 2012, 10 a 12 de abril de 2012, São Paulo, SP.

Cristiane Brasil Lima Ulbrich Mestre e doutora em Engenharia Mecânica pela UNICAMP, com especialização em prototipagem
rápida, inspeção tridimensional e engenharia reversa, sócia da empresa BCS Tecnologia.

Flavio Ulbrich Especialista em Engenharia Elétrica pela UNICAMP, sócio da empresa BCS Tecnologia.

REFERÊNCIAS
1 PEREIRA, Valdecir O. Indicadores: Ponto de partida para melhorar o resultado da
ferramentaria. Moldes 2010 – VIII Encontro da Cadeia de Ferramentas, Moldes e Matrizes.
2010.
2 BARBOSA, Ricardo A. Vantagem competitiva no segmento de moldes e estampos. Revista
Ferramental. 2011.
3 CALIF, Fernanda B. Gestão de serviços em ferramentarias: planejar, executar e controlar.
Revista Ferramental. 2005.
4 FALCONI, Vicente. O verdadeiro poder. INDG. 2009